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 Clube da Luta - Crítica

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Danilo
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Data de inscrição : 11/04/2008

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MensagemAssunto: Clube da Luta - Crítica   Clube da Luta - Crítica Icon_minitime11.04.08 22:33

Em 1871, quando tinha 16 anos, francês Arthur Rimbaud escreveu uma carta onde explicava sua teoria poética. Para ele, o artista tinha que expor a alma, experimentar "todos os venenos" para tornar-se um poeta - sábio, um passo à frente dos semelhantes. Tire os floreios da linguagem e o que sobra é mais ou menos a filosofia de Tyler Durden: só despindo-se de todos os resquício de humanidade é possível encarar a verdade frente a frente, de igual para igual. Tyler Durden, para quem não sabe, é o mestre zen às avessas que vira inspirador do protagonista de “Clube da Luta”, o filmaço de David Fincher que é a cara na sociedade contemporânea, brutal e hiper-acelerado.

Da mesma maneira que havia feito no espetacular policial “Seven”, Fincher apostou alto em “Clube da Luta”. Criou uma obra ambiciosa, apaixonada e apaixonante. Nada no filme é despretensioso; a construção da trama e dos personagens acontece de maneira meticulosa. O roteiro enfoca dois rapazes que criam uma espécie de pesadelo gestaltiano para extravasar emoções (liretalmente, um clube noturno onde os homens de reúnem para bater uns nos outros e, espécie de desejo secreto de todos, apanhar). O filme expõe a violência de forma tão crua que incomoda. Como nos socos levados por Jack, as feridas abertas pela obra de Fincher insistem em não cicatrizar. Um cruzamento de “Laranja Mecânica” com a minissérie de quadrinhos “O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller.
“Clube da Luta” é o tipo de filme polêmico que deixa uma cicatriz nos anos 1990. A rigor, trata-se de uma das primeiras obras que procuram, ainda que de forma meio desorientada, refletir sobre a apatia, a letargia de toda uma geração, que vê o mundo escorrer pelo ralo e parece mais preocupado em largar mais cedo do trabalho para se trancar em casa e jogar Nintendo, ou assistir à novela das oito. O discurso de Fincher é uma metralhadora giratória. Anti-religião, anti-consumismo, anti-TV, anti-tudo. Niilista, mas freudiano também. Não procura respostas apenas no mundo exterior, como o brilhante e surpreendente terceiro ato do filme (quando a verdadeira identidade de Tyler Durden é revelada) deixa evidente.

A reflexão interior é a chave para entender “Clube da Luta” - e, de quebra, os outros filmes do diretor, incluindo o subestimado “Vidas em Jogo”. No caso de “Clube da Luta”, as pistas para compreender isso estão espalhadas ao longo da produção. A luta que Fincher deseja enfocar é mais espiritual do que física. Isso mesmo. O cineasta flagra o homem brigando si mesmo, contra um destino imposto por algo maior do que ele (no caso, a sociedade criadora de regras de comportamento que ele mal compreende), um espelho que, no clube da luta do título, toma forma de um colega. Como Lúcifer, o homem de Fincher cai, mas arrogante até o fim.

O clube da luta é uma das melhores metáforas dos últimos tempos. E, através dela, é possível compreender que a filosofia de Rimbaud também é a filosofia de Fincher. Tyler Durden: um poeta de fim de milênio. Além disso, é uma metáfora edipiana muito engenhosa. Um exemplar moderno e raro de tragédia grega, que alinhava brilhantemente as obras anteriores do diretor. Em “Alien 3”, o monstro se escondia dentro da tenente Ripley; em “Seven”, a ira do detetive Mills põe tudo a perder no final; em “Vidas Em Jogo”, é a arrogância do milionário que quase transforma sua vida em ruína. Antes, o cineasta sussurrava. Em “Clube da Luta”, Fincher grita: "Meu maior inimigo está dentro de mim".
Tudo, absolutamente tudo no filme tem o rosto do diretor. O roteiro de Jim Uhls é uma pequena gema, que capricha especialmente nos diálogos (preste bem atenção na cena em que Jack e Tyler Durden conversam pela segunda vez, em um bar – a filosofia do filme está resumida ali). A direção de arte faz maravilhas, especialmente nas locações (o apartamento de Jack e a casa de Tyler são cenários hiper-detalhados e comunicam muito sobre seus donos). Além disso, a dupla Edward Norton e Brad Pitt nunca desempenha abaixo da perfeição, dando um espetáculo à parte dos papéis centrais. Há ainda o som e trilha sonora, um retrato perfeito da ‘geração 90’. Prepare-se: quando os créditos do filme subirem, ao som da sarcástica “Where Is My Mind?” (Pixies), você estará testemunhando um dos exemplares mais bem acabados do cinema de denúncia social da geração 90. E, ironia das ironias, travestida de produto chique.

Chique, no caso, é a embalagem luxuosa criada para que o consumidor - o mesmo sujeito criticado pelo filme - leve a obra para casa. Pois é, repare só no raciocínio: se o filme realiza uma crítica tão violenta ao consumismo, como explicar a caixa dupla de luxo que abriga o trabalho? É contraditório, mas a vida contemporânea parece se alimentar disso mesmo. E o DVD, além de conter um filme de primeira, exibe uma quantidade de material extra que exige várias horas de atenção do espectador. O segundo disco está abarrotado de pequenos documentários, enfocando cada aspecto das filmagens (efeitos especiais, atuações, cenas de ensaios, direção de arte e muito mais). Pena que a Fox preferiu não colocar legendas nesses extras.

- Clube da Luta (Fight Club, EUA, 1999)
Direção: David Fincher
Elenco: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter, Meatloaf, Jared Leto
Duração: 139 minutos

Fonte: http://www.cinereporter.com.br/scripts/monta_noticia.asp?nid=99

Creditos Gennaro
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